sábado, 5 de novembro de 2016

CHEGOU PELA PRIMEIRA VEZ AO FUNCHAL HÁ 55 ANOS

Faz hoje, 5 de novembro de 2016, 55 anos que o paquete Funchal entrou pela primeira vez no porto da cidade que lhe deu o nome. Conforme documenta a fotografia, estava "novinho em folha". Hoje, o último navio construído de propósito para as ilhas da Madeira e dos Açores está parado em Lisboa... à espera de um futuro.

domingo, 17 de janeiro de 2016

FERRY, A AUTO ESTRADA ADIADA

Quantos quilómetros de estrada terão sido construídos nos últimos anos em Portugal? Quantos kms de novas vias de circulação terão nascido na Madeira nas últimas décadas? Quantos milhões de contos e de euros terão chegado da União Europeia desde 1986 para financiar essas obras? Uma importante ligação continua por fazer. A auto-estrada marítima que liga as regiões insulares da Madeira e dos Açores ao continente português, à Europa continental. Um ferry é uma auto-estrada marítima, um meio de transporte que representa o prolongamento no mar daquilo que em terra já têm os continentais. Um tipo de navio que permite transportar em simultâneo pessoas e bens. De forma autónoma. Sem depender de terceiros. Tal como um avião, uma forma de chegar a um destino insular. E por essa Europa, por esse mundo fora, coexistem diferentes tipos de transporte, mesmo em ilhas de reduzida densidade populacional.
Em 16 anos de século XXI continua a ser estranho discutir esta questão. O assunto resume-se à pergunta: por que razão é que a Madeira e os Açores continuam a ser as únicas ilhas da Europa, e de outras tantas latitudes, que continuam sem um navio de passageiros para o continente? Pelos vistos chegamos a 2016 e continuamos com esta triste figura de um país com tradições marítimas, mas que desse passado pouco ou nada resta. O que dirão os outros países europeus confrontados com o facto dos arquipélagos dos Açores e da Madeira continuarem sem ligações marítimas de passageiros? 
As respostas e argumentos são tantos, entre os que defendem rapidamente a criação desta linha e os que são contra e lamentam os prejuízos do único armador que experimentou um ferry na história das ligações marítimas da Madeira para o continente (Naviera Armas). Algo inédito, adversários económicos lamentando-se de prejuízos financeiros dos seus concorrentes...
A questão pode ser financeira ou económica mas é sobretudo social e cultural. E por culpa de Portugal e das suas regiões autónomas. Dos seus decisores políticos e agentes económicos e sociais. Das novas classes políticas, económicas e sociais que nasceram no pós 25 de abril com mentalidades mais continentais e retrógradas do que aquelas que antes não consagravam, em texto, a autonomia, mas que construíram muitos navios para as ilhas e portos como os do Funchal, na Madeira, e de S. Miguel, nos Açores. Para não referir a tão importante Junta Autónoma dos Portos. Ou ainda para não falar de outros tantos investimentos em terra, como estradas, aeroportos ou hospitais. A autonomia não se escreve ou não se repete vezes sem conta para ser real.  
Em especial na década de 70, os navios sentiram a concorrência da aviação, mas o tempo, rapidamente, encarregou-se de recuperar a navegação marítima, de ligações regulares (ferry) e dos cruzeiros.  Menos por cá, à excepção das viagens turísticas.
A paragem no tempo de uma ligação deste tipo levará também vários anos até ser competitiva. Mas será tão mais rapidamente competitiva quanto mais transparente for o negocio do transporte marítimo e das operações que o rodeiam.
Os cépticos, críticos e adversários a uma ligação ferry acontecem muitas vezes por desconhecimento, por teimosia ou por terem interesses em negócios que se fazem para além da ligação marítima, ponto a ponto.
A adversidade nasce não só porque este navios ferry ( de operação multi disciplinar – passageiros, mercadorias e automóveis) vão competir com os porta-contentores mas sobretudo com a operação que está montada desde a descarga em porto até ao cliente final. Mas essa é a grande vantagem de uma operação ferry. Uma operação rápida, com poucos intermediários. Por isso a questão é social, cultural, económica e até política. 
Não quero que a minha ilha continue a ser conhecida por ser aquela onde não há espaço para um ferry porque o negócio é deficitário. Mas se o é realmente é porque muita coisa estará mal, já que nos outros países existem estas ligações ferry. Tal como tantos outros negócios haverá um período de amortização de investimento. Solução simples: menos um navio de carga ou transferir estes contentores e automóveis num ferry, somando motivação para voltar a viajar de ferry e rapidamente a operação é rentável mesmo sem ajudas externas. Tal como foi progressiva a passagem dos catamarans do Porto Santo para os ferrys, ou dos próprios navio de carga para os ferries.











Num outro texto lembrei que no final da década de 50, aquando da encomenda do paquete Funchal, pela Empresa Insulana de Navegação, do armador açoreano Bensaúde, terá sido considerada a hipótese deste navio ser um ferry. E como tudo teria sido diferente. Agora, lembro que em 1961, quando o Funchal foi entregue, começava a nascer o aeroporto da Madeira. Nem por isso deixou-se de pensar que era importante ter um navio de passageiros para as ilhas.

Insisto que há ferries por tantos mares e portos. Um serviço ferry elimina mentalidades continentais (mesmo vivendo em ilhas) que esquecem o sentido da insularidade. Quando as ilhas portuguesas ficam isoladas porque os aeroportos estão inoperacionais, é o mesmo quando as grandes cidades continentais dependerem apenas de um tipo de fluxo de transporte.  …
Estou em crer que se antigos fundadores de importantes companhias de  navegação, do continente e das ilhas, fossem homens dos tempos de hoje teriam evoluído para navios de características ferry e não apenas para porta-contentores e empresas associadas à estiva...
O período da autonomia consagrada em constituição (1976-...) tem esse dever para com os açoreanos e madeirenses. Um navio ferry que concretize a auto estrada marítima para que os insulares possam sair de casa em Ponta Delgada ou no Funchal e chegar ao continente no seu próprio carro. Circulando pelo seu próprio país... continental ou marítimo. 

Luís Filipe Jardim