terça-feira, 17 de junho de 2008

Crónica da 1ª viagem ferry para o continente

14 de Junho de 2008. A data fica para a história. O navio Volcan de Tijarafe, da Armas, parte do Funchal, pelas 10.30, com destino a Portimão. De um dos tombadilhos do ferry ouvem-se os apitos de uma buzina de ar comprimido, prontamente respondidos forte apito do navio. Clube de Entusiastas de Navios e Armas assinalam a efeméride. Estavam retomadas as ligações marítimas entre a Madeira e o continente, após 30 anos sem ligações marítimas em navios de passageiros entre a ilha e o território continental. Na ponte, o comandante ordena uma velocidade de 23,5 nós. O tempo em rota é bom, a ondulação é de 1,5 metros. Com pouco mais de uma hora e meia e o Volcan de Tijarafe passa a sul do Porto Santo, distante, provavelmente a cerca de 3 milhas. O céu vai ficando encoberto. Depois da animação no tombadilho da piscina, proporcionado pela equipa de entretenimento da Armas, os passageiros dirigem-se para o interior do navio acomodando-se nas butacas (designação dada pelos espanhóis a este tipo de cadeiras, estilo avião) e nos camarotes. Com capacidade máxima para 966 passageiros, o Volcan de Tijarafe pode alojar em camarote 206 passageiros. O self-service abre às 13 horas e o mar vai abrindo o apetite aos estreantes na primeira ligação ferry entre a ilha da Madeira e o continente português. Uma refeição custa em média entre 10 a 15 euros, enquanto um pequeno lanche pode custar cerca de 3 euros. A tarde é passada junto à piscina para os que preferem desafiar o vento, no salão principal ou repousando nas confortáveis butacas ou camarotes (simples mas funcionais). Nos altifalantes ouve-se em português e espanhol que a Naviera Armas oferece um cocktail de boas vindas da estreia nesta ligação marítima que junta as Canárias à Madeira e ao continente. É altura de fazer um brinde ao sucesso desta operação que depende em muito da aceitação dos madeirenses, do turista ao transportador de mercadorias. Os preços pode consultar em www.navieraarmas.es . Numa rota feita a grande velocidade (entre 23 e 24 nós) e logo com elevados consumos de combustível, só o aumento da procura sobretudo de carga poderá levar Antonio Armas a continuar esta linha no próximo ano ou até estender a operação para além dos meses de verão. No cocktail trocam-se conversas sobre esta operação de risco mas sempre com o entusiasmo de continuar. Enquanto isso, cai a noite. O self-service volta a abrir portas. A ementa é diferente da do almoço, os 3 ou 4 pratos quentes mais os frios, o que agrada aos passageiros. A equipa de animação prepara-se para um espectáculo de variedades aplaudido pelos passageiros que se estrearam na primeira linha ferry para o continente. Depois de um dia de festa no mar, muitos recolhem-se às butacas e aos camarotes. Os mais resistentes dão mais um dedo de conversa com um pé de dança à mistura. Muitos ainda não querem crer que alguém finalmente lembrou-se e apostou em fazer esta linha. Um dia histórico festejado no mar e na Madeira! Dia 2, 8 horas e o piloto da barra de Portimão embarca no Volcan de Tijarafe, num dia de céu limpo e de mar estanhado. A bandeira da Madeira flutua num dos tombadilhos do Volcan de Tijarafe, erguida por alguns passageiros. O ferry faz a manobra dentro do porto, rodando sobre o seu próprio eixo. 8.30 e está concluída a atracação. As grandes portas do car-deck são abertas e por onde os passageiros acabariam por desembarcar, por decisão do porto de Portimão, dotado de uma pequena gare marítima com uma área que inclui uma sala de espera, um posto de turismo e outras lojas de apoio. 3 horas e meia de estadia. Tempo suficiente para uma visita rápida pelo Alvor e pela Praia da Rocha, numa excursão oferecida pela Câmara de Portimão ao Clube de Entusiastas de Navios, que ofereceu algumas recordações regionais à Autarquia que assinalando esta primira viagem de ferry do Funchal para Portimão. De regresso ao navio e o Volcan de Tijarafe parte de Portimão às 12 horas. Os passageiros distribuem-se pelos tombadilhos. A bandeira da Região Autónoma da Madeira volta a ser erguida, curiosamente, com as mesas cores do emblema da Armas. O navio faz rumo ao Funchal, agora com cerca de 50 passageiros. No bar Madeira, que homenageia a ilha, juntam-se muitos passageiros que refrescam a garganta numa tarde de sol Mais alguns brindes entre o entusiasmo e a apreensão de António Armas, vice-presidente da Naviera Armas e filho do presidente e fundador da empresa. O vento faz com que o mar esteja encrespado mas a navegação volta a ser muito boa. Pela popa e cruzando a esteira um rebocador de alto mar da Maersk. O Volcan de Tijarafe segue a 23,5 nós. Cai mais uma noite. Os passageiros que fizeram esta viagem de ida e volta começam a despedir-se de algo que fica para a história. Dia 3, 8 horas. O ferry da Armas passa frente ao Porto Santo e, uma vez mais, bem distante. É já na travessa, pouco antes de cruzar a Ponta de S. Lourenço que se cruza com o Lobo Marinho. Alguns minutos depois e avista-se já o Funchal e o navio de cruzeiros Europa, da Costa, atracado na cabeça do molhe da pontinha. O piloto da Administração de Portos da Madeira embarca no Volcan de Tijarafe que rápidamente manobra na baía, frente à barreirinha, vindo de ré até ao cais junto à rampa roll-on roll-off. As portas do car-deck abrem-se. Os passageiros sem carro vão esperando e deseperando até à colocação da escada de portaló. Deficiente e a precisar de outra escada melhor e ou mais moderna, ao ponto do primeiro passageiro a desembarcar (operador de imagem da TVE) ter dado uma queda, assistida por muitas das pessoas que estavam no cais. Estava concluida a primira viagem de ferry Madeira-Continente-Madeira. Uma ligação retomada graças à coragem do armador Antonio Armas que merece os parabéns da população madeirense a quem cabe agora responder a este desafio. As linhas ferry são as auto-estradas marítimas. A Madeira fica agora mais próximo da Europa. As mãos pintadas de verde e de vermelho no casco do Volcan de Tijarafe reflectem o slogan da Armas de unir as províncias insulares de Gran Canaria e de Tenerife, mas fruto também da numa imaginação podem também representar hoje a união de Espanha e de Portugal através da primeira ligação ferry entre a Madeira e o Continente.

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito obrigado pelas suas informações (e fotos!) do navio.
Estranho é a falta de representantes da «R.A.», ou mesmo da C.M.F. na inauguração desta linha...
cumptos
amg

Freitas disse...

Acho que infelizmente as autoridades deram pouco relevo ao restabelecimento das ligações marítimas. Talvez por não ser o grupo regional a fazê-lo.
E acho que também se deveria estabelecer a restituição de parte do valor da viagem. A explicação da Dra. Conceição Estudante foi fraca e infeliz: "Trata-se de um serviço turístico e esporádico, portanto não será considerado serviço público."
Um bem haja à Naviera Armas.