segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Até Sempre Black Prince!

Há navios que deixam marcas. Que marcam gerações, que nos transportam para lá da linha do horizonte, que situam épocas e até expressam sentimentos. O Black Prince é um desses navios, sem dúvida. Falar do Black Prince é para mim recordar-me dos tempos em que comecei a gostar dos navios. Vezes sem conta vi de casa da minha mãe as rápidas manobras de acostagem dos Blacks, dispensadas de piloto, pela regularidade das escalas no Funchal. Foi ainda um dos primeiros navios que fotografei, em 1984. Lembrar-me-ei sempre das chegadas às segunda-feiras de manhã e partidas às terças pelas cinco da tarde, nas viagens do norte da Europa (Roterdão e Inglaterra) para as Canárias, de onde vinha aos sábados, numa curta estadia entre as 12 e as 14 horas. Eram assim essas viagens, intercaladas com o gémeo Black Watch. Um fazia norte-sul, o outro sul-norte. Viagens também efectuadas com o irmão mais novo, o Blenheim. De 1967 a 1986 o Black Prince transportou para a Madeira milhares de emigrantes e turistas de Outubro a Abril de cada ano ao serviço da Fred. Olsen Lines. Recordo-me ainda das passagens a grande velocidade, já a toda a força, frente à praia do Galo, no Caniço, aos sábados à tarde, quando os Blacks estavam de regresso a Inglaterra. Os navios da Fred. Olsen e em especial o Black Prince marcaram um tempo na Madeira. As viagens regulares dos navios do Cabo, da Union Castle, tinham terminado e os Black(s), de alguma forma, sucediam-nos no transporte de emigrantes madeirenses para a Inglaterra. Depois de ter marcado uma época, nas viagens regulares de passageiros entre o norte da Europa, a Madeira e as Canárias, o Black Prince continuou a sua actividade em 1987 exclusivamente como navio de cruzeiros, depois de algumas transformações na Finlândia. Embandeirado nas Filipinas voltou a repetir uma série de cruzeiros com escalas no Funchal, porto que sempre visitou todos os anos desde 1967 com 594 escalas, a última das quais esta terça-feira, 6 de Outubro, em que vamos dizer, Até Sempre Black Prince!

5 comentários:

Donato Macedo disse...

Partilho a nostalgia pela partida do Black Prince, navio que acostumei-me ver desde a Rochinha e que nele tive o privilégio de fazer um mini-cruzeiro a Canárias em 1984 na minha adolescência. As suas 594 escalas no Funchal são indubitavelmente um importante registo da sua relação com este porto, e com o turismo madeirense.

Luís Filipe Jardim disse...

É verdade... A nostalgia veio ao de cima nesta partida de mais um navio que marcou a minha geração de entusiastas, como o Canberra ou o Queen Elizabeth 2. Ainda bem que temos o anfiteatro do Funchal como uma montra de navios de cruzeiros

Luis Paulo disse...

Fiquei desgostoso com mais esta despedida do nosso porto. Mas a vida dos amantes de navios é assim mesmo. O Black Prince também marcou a minha infância mas já como navio de cruzeiros e como uma das primeiras silhuetas que identifiquei quando me apaixonei pelos navios. Não eram precisos os binóculos para perceber que era o Black que se aproximava ao longe. Escapa aos sucateiros mas a mágoa fica cá, porque nunca mais vamos vê-lo na nossa baía. Tal como o Canberra, o Queen Elizabeth, o Maxim Gorky, o Achille Lauro, entre tantos e tantos outros que em breve partirão do nosso porto para não voltar. Ficam as fotos, os postais e os momentos em que me desloquei à pontinha para ver o Black Prince partir. E esses já ninguém os tira.

Luís Filipe Jardim disse...

Recordar é viver! E essas recordações quando associadas às fotografias e à partilha desses momentos têm ainda outro sabor especial. Sei o que isso é e representa para um entusiasta de navios! Sem dúvida que o Black Prince é um desses navios com "personalidade" e onde este sentir pelos navios se torna mais expressivo! Não querendo tornar tal num slogan, permitam-me que exclame Viva os navios!

LUIS MIGUEL CORREIA disse...

A despedida do BLACK PRINCE de águas funchalenses marca o final de uma época feita de navios de rosto humano.
O BLACK PRINCE foi para o Funchal um navio simbólico. Derradeiro sobrevivente de uma família simpática formada por três BLACKS (BLACK WATCH 1966-1986, BLACK PRINCE 1966-2009 e BLENHEIM 1970-1981)que de alguma forma preencheram no imaginário marítimo local o espaço deixado aberto pelos NAVIOS DO CABO, este pequeno navio misto de passageiros e carga, posteriormente promovido a navio de cruzeiros a tempo e espaço inteiro, assistiu ao crescimento e especialização da indústria de cruzeiros nestes quarenta anos. Hoje a sua silhueta futuristica contrasta com o gigantismo volumoso da maioria dos navios que continuam a visitar a Madeira, numa escala que absorve todas as proporções da Pontinha que conheci decorada de navios tão belos e harmoniosos como o FNCHAL, o SANTA MARIA, o ANCERVILLE ou o FEDERICO C, para referir uns poucos favoritos dos meus anos sessenta em águas da Madeira...
O BLACK PRINCE faz parte da história dos navios de passageiros do Porto do Funchal como um dos seus nomes mais significativos. E é bom assistir ao desenrolar dessa história tão cheia de sons, formas e cores diluídos por já muitas décadas. Alguns desses sons da minha infância são agora apenas isso - recordações - caso do ruido quase sinfónico da largada do ferro dos navios à chegada seguido do esforço da máquina do CABO GIRÃO ou do seu irmão a darem a volta ao navio enquanto a lancha FUNCHAL passava os cabos de proa ao cais.
O Porto do Funchal mudou muito desde que em 1967 o BLACK PRINCE inovou costumes antigos com a sua presença irreverente, a começar pela manobra de entrada, virando fora da Pontinha e depois fazendo a aproximação ao cais a andar a ré, sem rebocadores. Hoje quase todos manobram assim...