segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Independência deixa a Madeira em dia de grande movimento

Um último Adeus! Partiu hoje do Funchal um dos navios mais conhecidos dos madeirenses. O Independência foi vendido a uma empresa de Setúbal, a mesma que comprou os rebocadores Cabo Girão e Ponta do Garajau. Hoje largou rumo a Lisboa, num dia de grande moviemnto de navios de passageiros. 3 paquetes de cruzeiros e dois ferries. Até à entrada do ferry Lady of Mann serviu nas ligações marítimas entre a Madeira e o Porto Santo. Primeiro, ao lado do Pirata Azul, depois ao lado do Pátria. Mais tarde serviu também no Tejo e nos Açores. Foi um resistente. Na paragem para manutenção dos ferries voltou aos mares da travessa. As novas regras de segurança no mar ditaram ainda mais a paragem do navio, atracado no terminal norte à espera de comprador. Acaba por ser interessante o dia em que parte. Num dia em que o Funchal foi um porto verdadeiramente de passageiros... ou melhor... com navios de passageiros. Em matéria de infraestruturas os passageiros, turistas de cruzeiro ou de ferry, pouco ou nada têm. Além da ausência de gares e de outras infraestruturas de apoio criam-se "dificuldades" no embarque e desembarque do ferry da Armas. No fim perde a Madeira e a sua tradição em bem receber. O porto do Funchal deve ser um porto de vocação para pessoas , sejam turistas sejam visitantes. A bem da cidade, a bem do destino Madeira. A Madeira deve continuara identificar-se por ela própria e não por modelos mal importados! A reflexão fica no dia em que a Madeira perde mais um navio que lhe diz muito. Perdemos todos esses navios... os costeiros, os rebocadores, o Madeirense, o Pirata Azul, agora o Independência... Enfim ...
Fotografia: Última da partida, com Garajau em fundo: Sérgio Ferreira

2 comentários:

João Abreu disse...

Texto profundo e acima de tudo 100% verdadeiro, é algo que peca na nossa bela ilha, a fraca hospitalidade para com os turistas, principalmente os dos meios marítimos, primeiro antes que tudo, menciono um incidente que me aconteceu há uns anos atrás, quando desembarquei do Lobo Marinho, em terras porto-santenses, lembro-me de naquele preciso dia, haver uma grande escassez de taxis no porto, os que lá tinham estado, foram usufruídos pelos primeiros a desembarcar, postriori, eu e os meus pais ficamos a aguardar a vinda de um taxi, visto que uma caminhada até ao centro estava fora de questão devido ao peso das bagagens, foi então que após uma hora e qualquer coisa, milagrosamente chegou um taxi, tentamos apurar a razão pela qual acontecera aquela escassez e foi nos dito pelo condutor, que os taxis em maioria tinham-se concentrado no aeroporto porque tinha chegado um importante avião oriundo do Porto.
Concluindo, foi mesmo preciso ter deixado alguns dos passageiros do ferry "plantados" no melhor sentido da palavra, enquanto davam mais ênfase aos do tal avião?, e por minha desilusão este funcionamento ainda persiste, com fracos meios de acolhimento de turistas no molhe da pontinha, espero que com a vinda da gare marítima muito disto se resolva.
Continuações!

LUIS MIGUEL CORREIA disse...

Muito interessante o comentário à falta de facilidades adequadas aos passageiros no Porto do Funchal. Uma característica comum a outros portos portugueses. Infelizmente, temos que dar sempre boa nota do nosso atraso. Em Lisboa não é melhor.
As dificuldades associadas à operação do paquete da ARMAS são indecentes. Sei que por estas e por outras a Madeira está muito mal vista nas Canárias.
Fotografei o INDEPENDÊNCIA em Lisboa a 24 de Dezembro, em manobra na Baía do Seixal, onde foi atracar a um estaleiro do fim do mundo. Merecia melhor sorte o navio, estava com ar triste, que os navios têm alma, mesmo os mais pequenos...
Voltando aos cruzeiros, a falta de condições nos portos portugueses tem vindo a beneficiar os espanhóis, que estão fartos de investir e recolhem os dividendos desse esforço de bem receber. E aqui para nós, em condições naturais e beleza, os nossos portos são muito superiores. Falta depois a gestão do negócio marítimo com brio e profissionalismo. E é assim há tantos anos.
O porto do Funchal é um dos primeiros grandes portos de navios de cruzeiros do mundo, desde o século XIX, foi ao longo de muitos anos o porto português com maior movimento de passageiros, em número superior ao da capital... Com tantas tradições há que reinventar o destino em termos de excelência.
Aqui fica para estímulo uma fotografia do movimento do porto em 1912, com dois dos maiores paquetes do mundo, da Cunard e da White Star Line:

No dia 28 de Fevereiro de 1912, visitaram o Funchal, 5.000 estrangeiros, a bordo de 4 navios, segundo notícia da imprensa :

“O CARMANIA, esplêndido vapor de recreio, o ADRIATIC, soberbo recreio da companhia ingleza White Star Line, o BRITON, grande paquete da carreira do Cabo da Boa Esperança, e o ATRATO, da Mala Real Ingleza, que de volta de um torneio recreativo por vários portos do Mediterrâneo, Canárias e Inglaterra, toca também na Madeira por espaço de algumas horas. Estes grandiosos transatlânticos, que são como se sabe de poderosas lotações, conduzem, ao todo 5.000 passageiros” .
Num registo menos positivo, a mesma edição do Jornal do Comércio noticiava um “Desvio de Navegação: os vapores da companhia «Norddeutscher Lloyd» que fazem a carreira do Brazil e Rio da Prata, deixam de tocar na Madeira a partir do próximo mês de Janeiro, indo às Canárias fazer os seus abastecimentos. Os mesmos vapores só tocarão no nosso porto quando seja compensador o número de passageiros ou a quantidade de carga”.
Era já a concorrência com as Canárias que se acentuou de forma dramática depois da primeira guerra mundial, quando muitos navios substituíram o carvão por derivados do petróleo.